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OPINIÃO: Aids


Em 1988, foi criado o Dia Mundial de Luta contra a Aids. O 1º de dezembro se tornou um marco na resposta global à epidemia. O Ministério da Saúde lançou neste ano a campanha "30 anos do Dia Mundial de Luta contra a Aids - uma bandeira de histórias e conquistas". Em dezembro, são realizados muitos eventos para ampliarem o debate sobre o cuidado com o HIV/Aids e minimizarem o preconceito. Aids já foi sinônimo de morte. Receber o resultado positivo na década de 80/90 era ter a notícia que não havia medicamentos eficazes e as infeções oportunistas surgiriam em breve. Os cartazes, distribuídos pelo Ministério da Saúde, alertavam com os dizeres "Aids mata"! A imagem do Cazuza, no auge da doença, ficou tatuada em nossa memória. A tentativa de educar pelo medo nos primeiros tempos de epidemia logo deu sinais de falha, pois os números não paravam de crescer. O termo "peste gay", utilizado nesta época, só reforçou preconceitos.

Consequências? Os que se consideravam fora dos "grupos" inicialmente mais atingidos (hemofílicos, usuários de drogas injetáveis e homossexuais), julgavam ser imunes. Aos poucos as estatísticas revelavam o aumento de casos em mulheres e homens heterossexuais, crianças e idosos. Foi preciso relembrar que o vírus transmissor é o HIV, ou seja, o Vírus da Imunodeficiência Humana. Humanos somos todos nós e, portanto, podemos nos infectar, caso não haja medidas protetivas. O uso de preservativos nas relações sexuais e o não compartilhamento de seringas é informação recorrente. Mães soropositivas são imediatamente orientadas a não amamentarem seus filhos, pois o leite materno pode transmitir o vírus ao bebê. Teoricamente, sabemos que Aids pode transmitir pelo sangue, esperma, secreção vaginal e leite materno. Suor, lágrima e saliva não propagam o vírus. Mas, geralmente, o que se vê é a exclusão das pessoas soropositivas do convívio social, em situações que não oferecem riscos. Sinal claro de que o preconceito com os portadores permanece é que até hoje as pessoas infectadas têm receio de revelarem o resultado. Não é raro perderem empregos, amores, familiares e amigos. Por outro lado, muita coisa avançou. O diagnóstico e os tratamentos evoluíram. Os efeitos colaterais dos medicamentos foram reduzidos.

O SUS distribui preservativos masculinos, femininos e gel lubrificante em todas as Unidades de Saúde. Apesar do acesso facilitado aos insumos de prevenção e da farta informação, Santa Maria ocupa hoje o 35º lugar no país em números de casos de Aids. Considerando que o Brasil possui 5.570 municípios, esse dado é preocupante. É preciso reforçar sobre métodos de prevenção em todos os espaços, para todos os públicos. Aids ainda não tem cura. Para realizar essa discussão não podemos fugir do debate de gênero, sexualidade e outros temas que se entrecruzam. É preciso escutar as pessoas e compreender suas dificuldades para conseguirem realmente o cuidado eficiente. Não é fácil, por exemplo, para uma mulher que aprendeu que não pode falar abertamente sobre o assunto, ao ter uma relação sexual, tenha tranquilidade em dizer "sem caminha, não quero". Os dados estatísticos demonstram que essas "pequenas" dificuldades tem consequências: todas as semanas, cerca de 7 mil mulheres entre 15 e 24 anos são infectadas pelo HIV. Outros avanços são anunciados pelo Ministério da Saúde, tais como a queda expressiva no número de óbitos por Aids no país. Segundo o último Boletim Epidemiológico (novembro/2018), em quatro anos a taxa de mortalidade pela doença passou de 5,7 por 100 mil habitantes em 2014 para 4,8 óbitos em 2017.

A garantia do tratamento para todos e a melhoria do diagnóstico contribuíram para a queda, além da ampliação do acesso à testagem e redução do tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento. Os novos números da epidemia revelam que, de 1980 a junho de 2018, foram identificados 926.742 casos de Aids no Brasil, um registro anual de 40 mil novos casos. Houve diminuição da transmissão vertical do HIV, quando o bebê é infectado durante a gestação. Só em 2018, foram distribuídos 12,5 milhões testes rápidos para detecção do vírus HIV. Apesar dos avanços no programa da Aids no Brasil, reconhecidos mundialmente, precisamos prevenir. O diagnóstico positivo ainda traz consequências que podem ser dolorosas.

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